20. País desenvolve novo fármaco contra tuberculose
Substância ajuda a reconstruir o sistema imunológico. Pesquisa biológica é desenvolvida em rede, incluindo pesquisadores brasileiros
Simone Iwasso escreve para “O Estado de SP”:
Um novo fármaco desenvolvido por pesquisadores brasileiros, em parceria com universidades chilenas e americanas, será apresentado hoje como alternativa no tratamento de doenças infecciosas, entre elas a tuberculose.
A divulgação será feita no 3º Fórum Mundial Stop TB, evento que acontece no Rio até amanhã e reúne especialistas para discutir o combate à doença no mundo.
Segundo experimentos feitos em animais e estudos preliminares em seres humanos, a substância, chamada P-Mapa, ajuda a reconstruir o sistema imunológico atingido por tumores, vírus ou bactérias, agindo como um imunomodulador. Essa propriedade foi testada pelo Instituto Emílio Ribas e pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, em 2007.
No caso da tuberculose, provocada por um bacilo transmitido pelo ar, essa capacidade regeneradora potencializaria o efeito dos medicamentos atualmente prescritos – normalmente uma combinação de drogas usadas por seis meses.
Com a substância, segundo as pesquisas indicam, seria possível reduzir os medicamentos, as doses e a duração do tratamento, recuperando as lesões nos pulmões que caracterizam a doença.
"Vamos apresentar a substância como nova medicação para tuberculose e outras doenças infecciosas, resultado de anos de trabalho com cientistas de várias instituições", explica Iseu Nunes, diretor-geral da Farmabrasilis, uma organização não governamental que coordena uma rede de pesquisa internacional para desenvolver o produto. "Em todos os testes feitos até agora, o fármaco se mostrou ativo e isento de feitos colaterais ou tóxicos."
Nos últimos anos, toda a pesquisa da entidade foi feita de maneira aberta, em colaboração com cientistas interessados no aprimoramento da substância, obtida por um processo de biotecnologia com base na fermentação de um fungo.
Numa comparação, essa rede de pesquisa biológica funciona da mesma maneira que uma rede de software livre: todos os envolvidos têm acesso aos dados básicos e colaboram no desenvolvimento de um programa que, depois, é colocado à disposição da comunidade gratuitamente.
Desse modo, a rede conta com pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade da Califórnia, entre outros.
Um dos compromissos assumidos pelos cientistas é, assim que todas as fases de pesquisa estiverem cumpridas, liberar a propriedade intelectual e os royalties sobre a comercialização do produto para uso em programas de saúde pública.
Isolamento
A pesquisa em rede não é o único diferencial do composto, que também diverge da forma tradicional de desenvolvimento desse tipo de substância por não estar ligado à indústria farmacêutica.
O início do trabalho começou num laboratório isolado em Birigui, no interior de São Paulo, em 1950. O médico Odilon da Silva Nunes trabalhou sozinho até 1985, pesquisando fungos e sua resposta em animais com recursos próprios.
Em 1985, um pesquisador da Unicamp entrou no projeto, criando então uma rede com outros cientistas. Com a pesquisa avançando, a falta de patrocínio emperrou o processo, até que o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA se ofereceu para testá-la e analisá-la. (O Estado de SP, 24/3)